terça-feira, 31 de maio de 2016

Somos todos parte de uma identidade comum


Como transmontana de gema, daquele cantinho bem lá do "fim" de Portugal, onde a língua mãe até nem sequer é o Português, não me revejo, de todo, nas declarações desvairadas de José Cid.
Confesso que nunca gostei muito dele, é verdade. Mas os propósitos que teve não me ofendem, de todo! Tentou ter piada... (estava a ser entrevistado por Nuno Markl e quis ser engraçado, mas nem lhe chegou sequer aos "artelhos", que é como se diz aqui no Alentejo, onde resido há mais de 25anos!)
Sou portuguesa, sempre me senti como tal, apesar de ter crescido e estudado noutro país até aos 19 anos de idade, altura em que decidi regressar a Portugal. Sozinha...

Sou portuguesa, sim!
Mas, acima de tudo, sou transmontana!
Nasci no planalto mirandês, filha de pais humildes, pobres. Sou de lá! Com muito orgulho!
Lá, onde o horizonte se estende... não ter fim. Imenso, leva o nosso olhar muito para além da fronteira!
Lá, onde a noite sempre me parece mais estrelada e límpida!
Lá, onde o ar que se respira é mais fresco, mais puro, mais...ar !
Lá, onde a língua materna (“I tengo proua deilha”) não é o português, mas sim a primeira língua de Portugal, a segunda língua oficial desde 1999: “L mirandês”!
Lá, onde há tradições seculares, preservadas e vivas, que perpetuar a memória da riqueza cultural que nos carateriza, da nossa identidade, enquanto transmontanos.

Penso que José Cid, como muitos portugueses, se esqueceu que existem várias identidades em Portugal. À semelhança do que acontece noutros países, há várias identidades regionais. E estas, unidas, é que formam a entidade global do país!
Portugal não é só Norte e Sul, Porto e Lisboa!
Portugal é feito das particularidades de cada região; das singularidades de cada distrito, conselho, cidade, vila, aldeia; das caraterísticas de cada recanto mais ou menos interior, litoral ou insular.
Portugal, país pequeno em dimensão geográfica terrestre, mas tão vasto em diversidade cultural, gastronómica, arquitetónica, artística… populacional.
Pessoas “medonhas, feias e desdentadas” existem por toda a parte.
Pessoa lindas e com uma dentição perfeita também!
Há de tudo neste mundo! E em Portugal também!

Estou acima das declarações de José Cid e de todos os que partilham da opinião dele. Aliás, estou bem longe delas

Sou transmontana. Sinto-me muito bem como sou. Não sou desdentada. Por sinal, tenho uns dentes saudáveis, bem alinhados e branco, por trás de um sorriso que faço a quem merecer… E até à data, nunca ninguém me disse que era medonha! 

sábado, 21 de maio de 2016

A morte... que sorte!

ESPERO A MINHA MORTE

“O dia da minha morte será o dia mais feliz da minha vida”

Esta afirmação não é minha. Mas eu já a proferi em várias ocasiões…
As primeiras vezes, ela apenas era para mim um empréstimo. Um amigo meu tinha-a por companheira e dizia com frequência. Confesso que eu achava a ideia um tanto o quanto aterradora e até pessimista.
A nossa existência parecia assim reduzida ao sofrimento e à infelicidade !?
A vida não nos traria então nada de bom?

Refleti muito sobre o assunto e, finalmente, até a acho justa essa afirmação, agora. Ela tornou-se minha companheira. Atualmente, até a acho reconfortante e otimista.
Tinha razão, o meu amigo…
Se a nossa vida é marcada pelo sofrimento, a morte será a libertação. Ela irá salvar-nos da desgraça suportada, libertar-nos-á, oferecer-nos-á finalmente o merecido descanso e a paz.
Se vivemos uma vida intensa, durante a qual a alegria e a felicidade reinaram, bem podemos morrer felizes, pois a vida terá valido a pena!
Seja qual for a duração da nossa existência envida, a morte espera-nos no fim. É uma garantia para a vida!
Feitas as contas: a vida traz-nos algo de bom no final !

O dia da minha morte será mesmo o dia mais feliz da minha vida.
Nesse dia, acabará a dor de viver ! Todas as tristezas e todo o sofrimento não serão mais. E os momentos felizes já terão sido vividos. Farão parte do passado. Já não precisarei, portanto, de viver…
Nesse dia, aqueles que sentirem a minha falta não deverão ficar tristes, pois eu, eu estarei feliz!
E aqueles que ficarem contentes com a minha morte não sentirão a minha falta. E eu, eu ficarei feliz!
É por isso que vivo. Vivo à espera… À espera desse dia.
Vivo na esperança da minha morte.
O dia da minha morte será finalmente o dia mais feliz da minha vida!

Teresa Martins

La mort...quelle chance!

J’ATTENDS MA MORT

“Le jour de ma mort sera le jour le plus heureux de ma vie”

Cette affirmation n’est pas de moi. Mais je l’ai déjà proférée à plusieurs occasions…
Les premières fois, elle n’était pour moi qu’un emprunt. Un ami à moi l’avait comme compagne et la disait souvent. J’avoue que je trouvais l’idée quelque peu terrifiante et plutôt pessimiste.
Notre existence semblait ainsi réduite à la souffrance et au malheur !?
La vie ne nous apporterait-elle donc rien de bon ?

J’ai beaucoup réfléchi à ce sujet et, finalement, je la trouve bien juste cette affirmation, maintenant. Elle est devenue ma compagne. À présent, je la trouve même rassurante et optimiste.
Il avait raison, mon ami…
Si notre vie est marquée par la souffrance, la mort sera la délivrance. Elle nous sauvera du malheur enduré, nous délivrera, nous offrira enfin le repos mérité et la paix.
Si nous vivons une vie intense, au cours de laquelle la joie et le bonheur ont régné, nous pouvons bien mourir heureux, puisque la vie en aura valu la peine !
Quelque-soit la durée de notre existence en vie, la mort nous attend à la fin. C’est une garantie à vie !
Tout compte fait : la vie nous apporte donc quelque chose de bon à la fin !

Le jour de ma mort sera bel et bien le jour le plus heureux de ma vie.
Ce jour-là, finie la douleur de vivre ! Toutes les tristesses et toute la souffrance ne seront plus. Et les moments heureux auront déjà été vécus. Ils feront partie du passé. Je n’aurai donc plus besoin de vivre…
Ce jour-là, ceux à qui je manquerai ne devront pas être tristes, car, moi, je serai heureuse !
Et à ceux qui seront contents que je sois morte, je ne manquerai pas. Et moi, j’en serai heureuse !
C’est pourquoi je vis. Je vis dans l’attente… Dans l’attente de ce jour.
Je vis en espérant ma mort.
Le jour de ma mort sera enfin le jour le plus heureux de ma vie !



Teresa Martins

domingo, 20 de março de 2016

DE VOLTA À LUZ !

Permanecer na escuridão durante anos, perder o brilho. Viver na sombra de quem foi, a pouco e pouco, ofuscando a luz que irradiava de mim. Deixar a escuridão vencer! ? Sentir que já não aquece aquela chama de outrora. Já nem existe. Apagou-se há muito!... O que resta do calor? Tudo se consumiu... Varri as cinzas e atirei-as para longe! Fugi da sombra que me assombrava! Procurei novos caminhos... Deixei o Sol entrar. Estou de volta à luz! Contemplo o brilho da Lua. Alimento-me com a luz do dia. Deixo o coração aquecer, de novo. De volta à luz!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Acordar para o acordo ortográfico

Enquanto professora, vejo-me forçada a debruçar-me mais atentamente sobre o tão afamado acordo ortográfico. E mais, até durmo sobre o assunto! Talvez por isso, possa afirmar que já é tempo de acordar para ele.
Confesso que não tem sido muito difícil para mim encará-lo e lidar com algumas das alterações que ele propõe (ou impõe?). Reconheço que o mérito não é tanto meu, mas sim dos meus alunos. Quero aqui agradecer-lhes por, ao longo destes últimos 17 anos, me terem deixado algumas pistas, nos textos onde, ao escreverem, já anunciavam (de forma agora mais clara para mim) que a língua portuguesa estava em mudança. Digo “mudança” de forma consciente porque não implica necessariamente progresso!
Algumas das alterações, de que eles há tanto tempo falam e escrevem, tinham, tal como o acordo, como principal objetivo retirar letras que não se pronunciavam. Por isso mesmo, já há muito tempo que o verbo “estar” devia escrever-se “tar”. “Tás” a ver? Quem pensa que a letra kapa só agora entrou no alfabeto desengane-se. Os alunos, jovens visionários, incluem-na em “kualker” palavra, o que torna o português “bué fixe”. “Hades xprimentar”, é fácil e “prontes”. Não julguem que isto é um “izajero” porque é a realidade da nossa língua que muitos tratam e maltratam por tu. Quando alguém afirma: “ Já tinha “ouvisto” essa notícia antes”, a afirmação torna-se duplamente credível, pois não só ouviu, como também viu! Quem é que se vai atrever a contestar…
Se este último parágrafo vos despertou a atenção, deixei-me que vos diga que as mudanças já vaticinadas por muitos alunos não se ficam por aqui. Têm vindo a introduzir alguns neologismos na língua portuguesa e é na escola que se descobrem muitas vezes essas novas palavras. Nas aulas de Física (esqueçam a parte da “Educação”), os alunos fazem “abaixamentos” e “regulamentos para a frente” em vez de simples agachamentos ou cambalhotas e alguns até têm paredes de “escalagem”. O que interessa, no fundo, é que se mexam!
Mas, se é verdade que eu já acordei para o acordo, não significa que esteja de acordo com ele. Não faz muito sentido, por exemplo, que uma peça de vestuário que se quer curta e reduzida fique mais comprida agora que temos de escrever “minissaia”. E que dizer do nome de certas cores como “cor de vinho” ou “cor de laranja” que deixam de ter hífen e outras que ainda têm direito a ele, como o “cor-de-rosa”?
Também me questiono em relação ao entrave que certas mudanças vão representar na comunicação, tornando-a mais complexa, criando dificuldades não só de expressão, como de dicção (mantém o “c” porque se pronuncia) e de perceção (perde o “p” porque não se pronuncia). Assim, quando alguém afirma que “para para passar a mão pelo pelo do gato”, percebemos logo à primeira? Faz logo sentido? Não tenho a certeza… E se ouvirmos gritar: “Alto aí e para o baile!” (sim, “para”, do verbo “parar”, já não leva acento), o que devemos fazer? Ir logo para o baile ou parar de bailar? Será que algo está a falhar na comunicação?…
Pensemos agora no caso dos egípcios, habitantes de um país, o “Egito” (?), ao qual não parecem pertencer pois tiraram-lhe o “p”, embora muitos portugueses, eu incluída, o terem sempre pronunciado. O mesmo acontece com “excepto” que eu ainda não consigo escrever ou sequer pronunciar sem “p”. Parece que estou a aprender a falar uma língua estrangeira, pois estas duas últimas palavras, assim amputadas, nem parecem portuguesas. Eu sei, é (apenas) uma questão fonética…Mas se uma língua também se distingue das restantes pela sua fonética, isto é pela sonoridade e musica(lidade) que a cara(c)terizam ( o “c” é aqui opcional), a língua portuguesa, com o acordo ortográfico, nem sempre soa bem. É que este acordo tem alguns falsos acordes.
Contudo, não há volta a dar pois, mais cedo ou talvez mais tarde, havemos de nos adaptar e “adotar” a nova grafia, antes que estes ou outros linguistas se lembrem de introduzir mais umas “alteraçõezitas” e fazer mais umas afinações para a banda continuar a tocar!
Teresa Martins

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A "hera" das redes sociais...

Acho que tenho um hábito, ou talvez um vício de que não me consigo libertar e que alimento com frequência, pois confesso que me dá algum gozo e, sobretudo, porque me vai permitindo pôr o dedo em certas feridas abertas ( ou melhor, " escancaradas") da sociedade actual, em certos males de que esta padece, muitas vezes sem o saber ou sem o querer admitir...
E de que hábito/ vício se trata?
Todos conhecem o provérbio ou ditado popular que diz algo assim como:" A brincar, a brincar, se vão dizendo as verdades". Pois, sim: é mesmo disto que se trata. É este o meu vício!
Muitos são aqueles que usam o seu sentido de humor ou apenas um tom de brincadeira para veicular ideias importantes e sérias. Eu naõ tenho grande sentido de humor, mas gosto de brincar com as palavras de forma séria. Não se trata de rir da desgraça (nossa ou alheia), nem de ridicularizar ou minimizar questões sociais importantes. Apenas pretendo com isso levar as pessoas a reflectir sobre alguns aspectos do mundo actual em (des)construção!
Repararam bem no título desta mensagem?...
Não tinham lido bem?
Ter-me-hei enganado e, em vez de escrever "era", escrevi " hera"?
Não, de todo... Não me quis referir à Hera, rainha dos deuses olímpicos mulher e irmã de Zeus e deusa do casamento, mas sim à planta trepadeira. Há vários tipos de hera: decorativas e venenosas. Mas quer umas, quer outras têm uma particularidade: as suas raízes ( grampiformes)agarram-se de tal maneira que é extremanmente difícil removê-las...
E aqui reside o motivo destas minhas considerações àcerca das redes sociais que nos prendem com as suas raízes (grampiformes), às quais nos agarramos de livre vontade mas das quais não nos conseguimos ( nem queremos, por vezes)libertar facilmente...
Mas, voltando à hera: esta pode ser usada para fins terapeuticos, permitindo tratar, entre outros,ferimentos, queimaduras, problemas respiratórios, hipertensão arterial e nevralgias. Também apresenta propriedades analgésicas, calmantes, cicatrizantes, estimulantes, hidratantes,... Contudo, é uma planta tóxica que não deve ser utilizada sem acompanhamento ou indicação médica.
Assim são as redes sociais: têm propriedades terapeuticas, mas também podem intoxicar-nos se nãm fizermos delas um uso regrado e controlado...

Cabe-nos então a nós usá-las da melhor forma possível, sem nos deixarmos envolver pelas suas raízes grampiformes, pois estas podem transformar-se depressa em raízes estrangulantes (aquelas que abraçam outro vegetal, e muitas vezes o seu hospedeiro morre por falta de seiva) ou sugadoras (as plantas que possuem esse tipo de raiz são considerados parasitas homeopatas, pois vivem à custa da outra planta).

E por hoje, é só.

@té breve...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010